Olá, meus queridos leitores.
É sempre muito bom e curioso, pesquisar sobre os escritores
brasileiros, como tenho falado desde o início do nosso “Cantinho da
Literatura”; e o objetivo é exatamente esse: de conhecer esses magníficos
poetas, contistas e cronistas do nosso Brasil e compartilhar alguns textos,
poesias, crônicas, etc. com vocês, que são amantes de uma boa leitura.
Mas sabemos também que é quase impossível conhecer e
pesquisar sobre tantos escritores e com isso, é sempre bom diversificar entre
os mais atuais e também os mais antigos, assim como a homenageada de hoje nesse
nosso espaço muito especial, falando um pouco sobre essa grande mulher que é
Eurídice de Barandas.
Nome Artístico: Ana
Eurídice Eufrosina de Barandas
Biografia:
Porto Alegre/RS,
08/09/1806 - local e data ignorados de sua morte, embora sabe-se que viveu mais
de 60 anos. Contista, poetisa e cronista. Recebeu educação esmerada, pois sua
família tinha posses. Defendeu a independência da mulher, o direito ao voto e a
liberdade de expressão. Apoiou os farroupilhas, revolucionários contrários à
monarquia e ao pagamento de impostos com dinheiro gaúcho aos ingleses, pregando
maior autonomia da região, contra os governistas ou caramurus. Alfabetizou os
filhos e sobrinhos, divorciou-se em 1843 e passou a controlar a propriedade e
os escravos da família. Obra poética: O ramalhete ou flores escolhidas no
jardim da imaginação, 1845/reedição em 1990 (com estudo de Hilda A. Hubner
Flores).
Soneto
Não partas!... Ou então leva-me a vida!
Piedade tem de uma infeliz amante,
Que em te amar jurou ser a mais constante
E que por ti de amor se vê perdida!
Pelo fatal ciúme consumida
Sem ter de alívio meu um só instante,
A Tício, no tormento, semelhante,
Sou do abutre voraz a triste lida!!
Ah! dize homem cruel, tu nunca amaste?
Nunca as penas sentiste de uma ausência?
Nunca de amor angústia exp'rimentaste?
Da minha dor, Jacínio, tem clemeência!
Recorda-te da fé que me juraste,
E não queiras cortar minha existência.
Ana Eurídice Wufrosina de Barandas
Do livro: Escritoras Brasileiras do Século XIX, org. Zahidé Lupinacci Muzart,
vol. 1, Editora Mulheres/EDUNISC, 2000, SC
LITERATURA E GÊNERO NO RIO GRANDE DO SUL: A POESIA DE ANA
EURÍDICE EUFROSINA DE BARANDAS
André
Augusto Gazola (Voluntário), Cinara Ferreira Pavani (orientadora) -
andre@lendo.org
A pesquisa
Literatura e Gênero no Rio Grande do Sul busca investigar a
produção
poética de autoras sul-riograndenses a partir dos estudos de gênero
e de
identidade cultural regional. Num primeiro estágio, em 2007, buscou-se
examinar,
na historiografia literária, o lugar das escritoras gaúchas Delfina
Benigna da
Cunha, Maria Clemência da Silveira Sampaio e Ana Eurídice
Eufrosina
de Barandas, que escreveram na primeira metade do século XIX. A
partir
desse trabalho, e encaminhando a pesquisa para um segundo estágio, o
presente
estudo pretende analisar a obra de Ana Eurídice Eufrosina de
Barandas,
O Ramalhete ou flores escolhidas no jardim da imaginação, partindo
de uma
abordagem textual e adentrando os motivos sociais resultantes. Dessa
forma, através
do recorte estilístico do uso de adjetivos-chave em relação a
determinados
substantivos, relacionamos a forma de expressão textual da
escritora
com sua visão feminina da sociedade na qual estava inserida, em
pleno
século XIX. Lindo, belo, terrível e cruel são fortes (e repetitivas)
manifestações
do pensamento de uma mulher que viu sua terra natal ser
invadida e
destruída, vivenciou um amor intenso, contudo incerto, apreciou as
belezas da
natureza, carregou um patriotismo fervoroso, porém crítico e
divorciou-se
por vontade própria, ficando responsável por criar e educar filhos e
sobrinhos.
Finalmente, através dessa análise textual mais profunda, abrem-se
caminhos
para novas – e, por que não, mais acuradas – interpretações do
legado
dessa escritora resgatada das páginas machistas que, por um longo
tempo, nos
foram apresentadas como única, verdadeira e irrevogável história
literária.
Palavras-chave:
poesia sul-riograndense, estudos de gênero, Ana Eurídice
Eufrosina
de Barandas.
Apoio: UCS.
Falando um pouco sobre o famoso "RAMALHETE":
"O RAMALHETE" ou "FLORES ESCOLHIDAS NO JARDIM DA IMAGINAÇÃO", de ANA EURÍDICE EUFROSINA DE BARANDAS. Editora NOVA DIMENSÃO/EDIPUCRS, 1990, 2ª edição, 127 páginas, capa flexível.
SINOPSE: "Ana Eurídice E. de Barandas documentou sobre o amor e o longa Guerra Civil dos Farrapos, agredindo a sociedade de sua época.
Influenciada pelas ideias liberais do Iluminismo europeu, e atingida em seus direitos de cidadania, defende o posicionamento político para as mulheres, rompendo as barreiras da mentalidade capitalista.
O RAMALHETE foi publicado em Porto Alegre em 1845, dois anos após o 'divórcio' da escritora, que a liberou da dependência marital para editar."
Quadras
1. Oh meu pobre animalzinho,
Oh meu Apolo querido!
Ainda tua lembrança
Não saiu do meu sentido.
2. Amor, inveja, ciúme
Te trouxeram ao meu poder:
Preferi-te a Bracaforte
Sem tua sorte prever.
3. Vieste tão pequenino,
Tão fraco, tão inocente
Que me fazia tremer
Por ti qualquer acidente.
4. Cresceste à minha vista,
Perto de mim te criei;
Amaste-me em paga disso,
Por isso mesmo te amei.
5. Ganhaste meu coração
Com o teu terno carinho;
Eras o meu companheiro,
Oh meu pobre animalzinho!
6. Os afetos da minha alma
Em meu semblante estudavas,
Sempre atento e decidido,
Por ele te regulavas.
7. Se em meus olhos descobrias
Sinais de acerba aflição,
A meus pés guardavas triste
A mais perfeita inação.
Ana Eurídice Eufrosina de Barandas
Do livro "O Ramalhete, ou Flores Escolhidas no
Jardim da Imaginação" (estudo da biografia da autora, atual. e notas no
texto de Hilda Hubner Flores), Nova Dimensão/EDIPUC, 2ª ed. 1990, RS
Enviado por: Leninha
Espero que vocês tenham se surpreendido com essa nobre
escritora, mas a sua biografia completa é muito mais surpreendente. Vale a pena
pesquisar e conhecer melhor essa mulher extraordinária, assim como tantas
escritoras dessa época.
Espero vocês no nosso próximo encontro aqui no “Cantinho da
Literatura”.
Abraços da amiga Janete
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