Olá, meus queridos amigos do Cantinho da Literatura.
Essa semana, o Brasil está de luto com a morte do nosso
querido escritor Luiz Paulo Horta.
Ele já estava na minha lista de homenagens aos geniais
escritores brasileiros, mas estou prestando essa homenagem hoje, em respeito à
sua súbita morte, com um breve resumo da sua biografia e alguns textos
publicados nas colunas do jornal O Globo.
Luiz
Paulo Horta nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1943. Em 1962, começou
a estudar Direito na PUC-RJ e abandonou o curso para ser jornalista. Trabalhou
no Correio da Manhã em 1963 e no Jornal do Brasil, de 1964 até 1990, e O Globo,
onde atualmente trabalhava.
Horta
criou e dirigiu a seção de música no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em
1986. Foi o sétimo ocupante da cadeira 23 e foi eleito no dia 21 de agosto de
2008, ocupando o lugar de Zélia Gattai.
Em
2000, ganhou o Prêmio Padre Ávila de Ética no Jornalismo e, em 2010, recebeu a
Medalha do Inconfidente do Governo de Minas Gerais.
Após
uma missa celebrada pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta,
a Presidente da ABL, Ana Maria Machado, fez a saudação de despedida.
"Nas variadas facetas de suas múltiplas atividades intelectuais, Luiz
Paulo Horta sempre manteve integridade moral e profundo respeito a um conjunto
de valores cada vez mais raros. Fosse no dia a dia de editorialista, de crítico
musical, de acadêmico, fosse na imersão em questões filosóficas ou reflexões
religiosas, nosso querido Luiz Paulo jamais deixou de dar um testemunho
exemplar dessa inteireza a serviço do conhecimento do assunto e de uma erudição
em permanente processo de atualização. Agora, somente nos resta uma única
palavra nesta despedida; Adeus, adeus a Luiz Paulo", disse, de acordo com
comunicado da ABL.
“O corpo do
jornalista, escritor, crítico de música clássica e colunista do jornal O Globo,
ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Luiz Paulo Horta foi
sepultado na manhã deste domingo (4), no Mausoléu da Academia Brasileira
de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Aos 69 anos,
ele morreu em sua casa, no bairro de Botafogo, vítima de um infarto fulminante,
na madrugada de sábado (3).”“Um homem muito culto, mas com fervor humano. Eu via no Luiz Paulo Horta um compromisso com a vida”, destaca Nelida Piñon, escritora e imortal da ABL.
Luiz Paulo Horta completaria 70 anos no dia 14 de agosto. Planejava celebrar o aniversário com uma missa e coquetel para os amigos. Nos últimos dias, Horta vinha apresentando sinais de cansaço, mas andava entusiasmado com a vida.
“Ele dizia para as pessoas mais chegadas: ‘Olha, dia 14 é meu aniversario’. E repetia tudo e eu dizia: ‘Meu Deus, como ele está empolgado com esse aniversário, como ele está querendo fazer esses 70 anos’”, conta a produtora musical Nenem Krieger.
Horta tinha duas paixões: a religião e a música. Era pianista. Durante 26 anos, trabalhou como crítico musical do Jornal do Brasil. Também era membro da Academia Brasileira de Música e da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio.
Lançou o último livro em 2011: "A Bíblia, um diário de leitura". Atualmente, colunista do jornal O Globo, publicou artigos diários sobre a visita do Papa Francisco ao Rio durante a Jornada Mundial da Juventude. Luiz Paulo Horta deixou mulher, três filhos e seis netos.
“Estava sempre estudando, lendo muito. Ele sabia muito de religião, ele sabia muito de música, ele sabia muito de filosofia. Ao mesmo tempo era uma pessoa muito simples. Ele vai fazer muita falta para nós e para todo mundo”, lamenta Ana Horta, jornalista e filha de Luiz Paulo Horta.
COLUNA: LUIZ PAULO HORTA
Por: Luiz Paulo Horta
Poucos problemas são tão
desafiadores para a Igreja de hoje quanto o da comunicação. A era é a da
comunicação permanente; e mesmo no plano do cristianismo, há mensagens que
concorrem com a da Igreja de Roma.
O tema foi abordado pelo grande
teólogo e místico suíço Maurice Zundel (falecido em 1975). Ele escreve:
“Hoje, mais do que nunca,
Deus pode proporcionar o encontro de todos os homens, a cura de todas as
feridas, a harmonização das diferenças. Trata-se de revelá-lo em nós e por
nós; se não O vemos, se Ele não é uma Presença sensível, o ser humano fica só
com suas angústias, seus egoísmos, sua biologia individual ou coletiva; fica
só com os fanatismos que matam o outro e a ele mesmo”.
Zundel acrescenta: “Seria preciso
reinventar uma linguagem nova, que nos introduzisse imediatamente na eterna
novidade do Evangelho”. Este é o desafio, que precisa ser sentido e vivido
por cada cristão. E o padre Zundel fornece uma outra pista para essa questão:
“O maior perigo, hoje, é a ausência
de vida mística, ausência de união com Deus, ausência de uma experiência
autêntica de Deus naqueles que deveriam falar deles”.
O que significa que, de um desafio,
passamos a outro que é maior ainda. É o “bom combate” de que falava São
Paulo.
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COLUNA: LUIZ
PAULO HORTA
Por: Luiz Paulo Horta
A vida de todo dia traz muitas
dificuldades. Em certos momentos, a pressão é tão grande que se transforma em
angústia. E, no entanto, estamos vivendo um mistério extraordinário. Como diz
a epístola de são Pedro, “bendito seja Deus que nos tirou das trevas para a
sua luz admirável”.
Apesar de todos os problemas, no
fundo de nós mesmos deveria existir um sentimento de gratidão. Porque fomos
chamados à vida, e recebemos esse patrimônio incrível que é a natureza
humana. Tão incrível, que aprouve ao próprio Deus revestir-se da nossa
humanidade, viver como um de nós, sofrer como sofremos, e também sentir as
nossas alegrias.Essa atitude básica de gratidão é o tema de uma das cartas do
monge Barsanúfio, que viveu no século VI nas imediações de Gaza, Palestina:
“De acordo com as palavras do
Apóstolo, devemos conservar sempre uma atitude de gratidão:
”Em tudo, demos graças a Deus“.
”Demos graças, inclusive, pelas tribulações, sofrimentos, angústias, doenças,
porque também é o Apóstolo quem diz: “Através de muitas tribulações
entraremos no Reino de Deus”. E lá, seremos livres de todo mal.
“Não tenha dúvidas, nunca desanime.
Lembre-se do ensinamento de Paulo: ”Embora a nossa natureza exterior se gaste
continuamente, a nossa natureza interior se renova a cada dia“. Aceitando o
sofrimento, seremos capazes de partilhar da cruz de Cristo.
”Enquanto o navio estiver em mar
alto, está exposto ao perigo e à mercê dos ventos. Mas quando ele chega ao
porto, já não há nada que ameace sua segurança, sua tranquilidade, sua
paz.
“O mesmo acontece conosco. Durante
esta vida, somos sujeitos ao sofrimento e atacados pelas tempestades
espirituais. Mas quando chegarmos ao término dessa viagem, não teremos mais
nada a temer”.
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Por: Luiz Paulo Horta
Em artigo anterior, citamos Máximo,
o Confessor (580-662), teólogo ilustre de Constantinopla. É dele, também,
o texto seguinte, que fala dos sentidos a serem procurados nas
duas partes da Bíblia: “A Sagrada Escritura é como um ser humano.
O Antigo Testamento é o corpo, o Novo Testamento é a alma, e o sentido do que
ali está é o espírito. De um outro ponto de vista, podemos dizer que toda a
Escritura sagrada, Antigo e Novo Testamento, tem dois aspectos: o conteúdo
histórico, que corresponde ao corpo, e o sentido profundo, o objetivo a que
devemos aspirar, e que corresponde à alma.
”Se pensamos nos seres humanos,
vemos que eles são mortais em seu aspecto visível, mas imortais em suas
qualidades invisíveis. Assim é a Escritura. Ela contém a letra, o texto visível,
que é transitório. Mas também contém o espírito escondido por trás da letra,
e esse não se extingue nunca, e deveria ser o objeto da nossa contemplação”.
O que esse texto tão simples e tão
profundo nos revela é a importância da Tradição no comentário dos textos
sagrados. Toda escritura sagrada precisa de comentário, de interpretação,
porque ali coexistem o que é eterno e o que é transitório.
Por exemplo, a Lei mosáica manda
apedrejar as adúlteras. Como imaginar que esse texto continue em vigor ainda
hoje, em condições históricas e culturais drasticamente diferentes? Isso não
significa que o texto sagrado tenha perdido a sua força; mas se ele não for
devidamente interpretado, caímos no literalismo, que é um outro nome para o
fundamentalismo.
Essa interpretação, por sua vez,
precisa apoiar-se na Tradição — que não deve ser vista como sinônimo de coisa
antiquada, e sim como a própria vida espiritual que vai sendo transmitida de
geração em geração. No contexto católico, a Igreja é o espaço privilegiado
para esse repositório de sabedoria e de vida interior. E um dos
aspectos dessa transmissão ininterrupta é a instituição do Papado. Por isso
se diz, com toda propriedade: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”. Onde está Pedro, aí
está a Igreja.
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