quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Luiz Paulo Horta

Olá, meus queridos amigos do Cantinho da Literatura.
Essa semana, o Brasil está de luto com a morte do nosso querido escritor Luiz Paulo Horta.
Ele já estava na minha lista de homenagens aos geniais escritores brasileiros, mas estou prestando essa homenagem hoje, em respeito à sua súbita morte, com um breve resumo da sua biografia e alguns textos publicados nas colunas do jornal O Globo.


 Autor de livros sobre música clássica e teologia, Horta acompanhou ativamente a Jornada Mundial da Juventude, publicando colunas diárias sobre a visita do Papa Francisco ao Brasil.
Luiz Paulo Horta nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1943. Em 1962, começou a estudar Direito na PUC-RJ e abandonou o curso para ser jornalista. Trabalhou no Correio da Manhã em 1963 e no Jornal do Brasil, de 1964 até 1990, e O Globo, onde atualmente trabalhava.

Horta criou e dirigiu a seção de música no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1986. Foi o sétimo ocupante da cadeira 23 e foi eleito no dia 21 de agosto de 2008, ocupando o lugar de Zélia Gattai. 
Em 2000, ganhou o Prêmio Padre Ávila de Ética no Jornalismo e, em 2010, recebeu a Medalha do Inconfidente do Governo de Minas Gerais.
Após uma missa celebrada pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, a Presidente da ABL, Ana Maria Machado, fez a saudação de despedida. "Nas variadas facetas de suas múltiplas atividades intelectuais, Luiz Paulo Horta sempre manteve integridade moral e profundo respeito a um conjunto de valores cada vez mais raros. Fosse no dia a dia de editorialista, de crítico musical, de acadêmico, fosse na imersão em questões filosóficas ou reflexões religiosas, nosso querido Luiz Paulo jamais deixou de dar um testemunho exemplar dessa inteireza a serviço do conhecimento do assunto e de uma erudição em permanente processo de atualização. Agora, somente nos resta uma única palavra nesta despedida; Adeus, adeus a Luiz Paulo", disse, de acordo com comunicado da ABL.
“O corpo do jornalista, escritor, crítico de música clássica e colunista do jornal O Globo, ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Luiz Paulo Horta foi sepultado na manhã deste domingo (4), no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Aos 69 anos, ele morreu em sua casa, no bairro de Botafogo, vítima de um infarto fulminante, na madrugada de sábado (3).”
Em 2008, ele foi eleito para Academia Brasileira de Letras. Durante o velório, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, fez uma oração. Na cerimônia, uma última homenagem.
“Um homem muito culto, mas com fervor humano. Eu via no Luiz Paulo Horta um compromisso com a vida”, destaca Nelida Piñon, escritora e imortal da ABL.
Luiz Paulo Horta completaria 70 anos no dia 14 de agosto. Planejava celebrar o aniversário com uma missa e coquetel para os amigos. Nos últimos dias, Horta vinha apresentando sinais de cansaço, mas andava entusiasmado com a vida.
“Ele dizia para as pessoas mais chegadas: ‘Olha, dia 14 é meu aniversario’. E repetia tudo e eu dizia: ‘Meu Deus, como ele está empolgado com esse aniversário, como ele está querendo fazer esses 70 anos’”, conta a produtora musical Nenem Krieger.
Horta tinha duas paixões: a religião e a música. Era pianista. Durante 26 anos, trabalhou como crítico musical do Jornal do Brasil. Também era membro da Academia Brasileira de Música e da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio.
Lançou o último livro em 2011: "A Bíblia, um diário de leitura". Atualmente, colunista do jornal O Globo, publicou artigos diários sobre a visita do Papa Francisco ao Rio durante a Jornada Mundial da Juventude.  Luiz Paulo Horta deixou mulher, três filhos e seis netos.
“Estava sempre estudando, lendo muito. Ele sabia muito de religião, ele sabia muito de música, ele sabia muito de filosofia. Ao mesmo tempo era uma pessoa muito simples. Ele vai fazer muita falta para nós e para todo mundo”, lamenta Ana Horta, jornalista e filha de Luiz Paulo Horta.


COLUNA: LUIZ PAULO HORTA


Falar de Deus
Por: Luiz Paulo Horta
Poucos problemas são tão desafiadores para a Igreja de hoje quanto o da comunicação. A era é a da comunicação permanente; e mesmo no plano do cristianismo, há mensagens que concorrem com a da Igreja de Roma.
O tema foi abordado pelo grande teólogo e místico suíço Maurice Zundel (falecido em 1975). Ele escreve:
“Hoje, mais do que nunca,  Deus pode proporcionar o encontro de todos os homens, a cura de todas as feridas, a harmonização das diferenças. Trata-se de revelá-lo em nós e por nós; se não O vemos, se Ele não é uma Presença sensível, o ser humano fica só com suas angústias, seus egoísmos, sua biologia individual ou coletiva; fica só com os fanatismos que matam o outro e a ele mesmo”. 
Zundel acrescenta: “Seria preciso reinventar uma linguagem nova, que nos introduzisse imediatamente na eterna novidade do Evangelho”. Este é o desafio, que precisa ser sentido e vivido por cada cristão. E o padre Zundel fornece uma outra pista para essa questão:
“O maior perigo, hoje, é a ausência de vida mística, ausência de união com Deus, ausência de uma experiência autêntica de Deus naqueles que deveriam falar deles”.
O que significa que, de um desafio, passamos a outro que é maior ainda. É o “bom combate” de que falava São Paulo.
COLUNA: LUIZ PAULO HORTA











Ser grato
Por: Luiz Paulo Horta
A vida de todo dia traz muitas dificuldades. Em certos momentos, a pressão é tão grande que se transforma em angústia. E, no entanto, estamos vivendo um mistério extraordinário. Como diz a epístola de são Pedro, “bendito seja Deus que nos tirou das trevas para a sua luz admirável”.
Apesar de todos os problemas, no fundo de nós mesmos deveria existir um sentimento de gratidão. Porque fomos chamados à vida, e recebemos esse patrimônio incrível que é a natureza humana. Tão incrível, que aprouve ao próprio Deus revestir-se da nossa humanidade, viver como um de nós, sofrer como sofremos, e também sentir as nossas alegrias.Essa atitude básica de gratidão é o tema de uma das cartas do monge Barsanúfio, que viveu no século VI nas imediações de Gaza, Palestina:
“De acordo com as palavras do Apóstolo, devemos conservar sempre uma atitude de gratidão:
”Em tudo, demos graças a Deus“. ”Demos graças, inclusive, pelas tribulações, sofrimentos, angústias, doenças, porque também é o Apóstolo quem diz: “Através de muitas tribulações entraremos no Reino de Deus”. E lá, seremos livres de todo mal.
“Não tenha dúvidas, nunca desanime. Lembre-se do ensinamento de Paulo: ”Embora a nossa natureza exterior se gaste continuamente, a nossa natureza interior se renova a cada dia“. Aceitando o sofrimento, seremos capazes de partilhar da cruz de Cristo.
”Enquanto o navio estiver em mar alto, está exposto ao perigo e à mercê dos ventos. Mas quando ele chega ao porto, já não há nada que ameace sua segurança,  sua tranquilidade, sua paz.
“O mesmo acontece conosco. Durante esta vida, somos sujeitos ao sofrimento e atacados pelas tempestades espirituais. Mas quando chegarmos ao término dessa viagem, não teremos mais nada a temer”.


                                                      
Interpretando as Escrituras
             
Por: Luiz Paulo Horta
Em artigo anterior, citamos Máximo, o Confessor (580-662), teólogo ilustre de Constantinopla. É dele, também, o  texto seguinte, que fala dos sentidos a serem procurados  nas duas partes da Bíblia: “A Sagrada Escritura é como  um ser humano.  O Antigo Testamento é o corpo, o Novo Testamento é a alma, e o sentido do que ali está é o espírito. De um outro ponto de vista, podemos dizer que toda a Escritura sagrada, Antigo e Novo Testamento, tem dois aspectos: o conteúdo histórico, que corresponde ao corpo, e o sentido profundo, o objetivo a que devemos aspirar, e que  corresponde à alma.
”Se pensamos nos seres humanos, vemos que eles são mortais em seu aspecto visível, mas imortais em suas qualidades invisíveis. Assim é a Escritura. Ela contém a letra, o texto visível, que é transitório. Mas também contém o espírito escondido por trás da letra, e esse não se extingue nunca, e deveria ser o objeto da nossa contemplação”.
O que esse texto tão simples e tão profundo nos revela é a importância da Tradição no comentário dos textos sagrados. Toda escritura sagrada precisa de comentário, de interpretação, porque ali coexistem o que é eterno e o que é transitório.
Por exemplo, a Lei mosáica manda apedrejar as adúlteras. Como imaginar que esse texto continue em vigor ainda hoje, em condições históricas e culturais drasticamente diferentes? Isso não significa que o texto sagrado tenha perdido a sua força; mas se ele não for devidamente interpretado, caímos no literalismo, que é um outro nome para o fundamentalismo.
Essa interpretação, por sua vez, precisa apoiar-se na Tradição — que não deve ser vista como sinônimo de coisa antiquada, e sim como a própria vida espiritual que vai sendo transmitida de geração em geração. No contexto católico, a Igreja é o espaço privilegiado para esse repositório de sabedoria e de vida interior.  E um dos aspectos dessa transmissão ininterrupta é a instituição do Papado. Por isso se diz, com toda propriedade: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”. Onde está Pedro, aí está a Igreja.
                                                      

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