Olá, meus queridos amigos.
Hoje, o nosso Cantinho da Literatura está diferente. Vai
começar com uns textos extraídos de algumas obras de Carlito Azevedo. É apenas
um "aperitivo", para quem se interessar em conhecer melhor esse poeta
brasileiro, crítico e editor carioca, pesquisando a sua biografia.
Encontro com vocês na próxima semana,
com mais um escritor brasileiro.
Abraços da amiga Janete
NOITE FÍSICA
(Desentranhado de um poema de Charles Peixoto)
A luz do quarto apagada,
na escuridão se destaca
a insônia que nos atraca,
dois gêmeos na bolsa d'água.
Ao despertar levo as marcas
que de noite rabiscavas
em minha pele com a sarna
ávida de tua raiva?
E em você a cega trama
algum mal pôde? ou maltrata
ainda, que penetrava
concha, espádua, gargalhada?
E, em nosso rosto essa raiva
aberta? que estranha lava
é essa que, rubra (baba de algum diabo), se espalha?
A luz do quarto apagada,
na escuridão se destaca
a fúria que nos atraca,
dois gêmeos na bolsa d'água.
BANHISTA
Apenas em frente ao mar
um dia de verão - quando tua voz acesa percorresse,
consumindo-o, o pavio de um verso
até sua última sílaba inflamável -
quando o súbito atrito de um nome em tua memória
te incendiasse os cabelos - (e sobre tua pele de fogo
a brisa fizesse rasgaduras de água)
(Do livro: as banhistas, Carlito Azevedo, Editora Imago)
MENINO
A pérola fria o topázio quente
dividiam seu rosto ao meio:
olhos de gato, olhar de gamo
(Do livro: as banhistas, Carlito Azevedo, Editora Imago).
ESTRAGADO
No jardim zoológico um ganso
as patas afundam na lama e ele imperial
como uma macieira em flor
mas está estragado
como qualquer um pode ver estragado
pensa que foi para isso
que o resgataram do dilúvio
mas não
resgataram o signo
estragaram o ganso
(Do livro: Collapsus linguae, Carlito Azevedo. Editora Lynx).
ABERTURA
Desta janela domou-se o infinito à esquadria:
desde além, aonde a púrpura sobre a serra
assoma como fumaça desatando-se da lenha,
até aqui, nesta flor quieta sobre o
parapeito - em cujas bordas se lêem
as primeiras deserções da geometria.
LIMIAR
A via-láctea se despenteia.
Os corpos se gastam contra a luz.
Sem artifícios, a pedra
acende sua mancha sobre a praia.
Do lixo da esquina partiu
o último vôo da varejeira
contra um século convulsivo.
SERPENTE
O nome
como veneno
e o poema como
antídoto
extraído do próprio
nome.
SOB O DUPLO INCÊNDIO
Sob o duplo incêndio
da lua e do neon,
sobre um parapeito de
mármore, entre duas cortinas
jogadas pela brisa marinha
que ao mesmo tempo às suas
coxas e costas dispensava
um hálito incontínuo,
inundando de rubro o restrito
perímetro de seu jarro em cerâmica
e contrastando, imemorial, com a
transitoriedade de tudo ali
(hotel, amor, carros, dia, noite)
uma flor alheia a símbolos
atingia seu ponto máximo
de beleza.
(Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org, Moacyr Félix. Rio de Janeiro; FUNARTE, 1998. 514 p.)
CARLITO AZEVEDO
Nasceu no Rio de Janeiro em 04 de julho de 1961. Cursou Letras na UFRJ.
Obras: Colapsus Linguae (1991), As banhistas (1993), Sob a noite física (1996), Versos de Circunstância (2001) e Sublunar (2001). É editor da revista de poesia Inimigo Rumor desde 1997.
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