quinta-feira, 20 de junho de 2013

Cecília Meireles - A Arte de Ser Feliz

Olá, meus queridos amigos.
Esse mês romântico, com o inverno se aproximando e quase não temos tempo para apreciar as belezas que a vida nos proporciona, com gestos simples e a rotina da própria vida que segue, e que ao menos temos tempo para apreciar ou, quem sabe, ainda não aprendemos a observar o que se passa à nossa volta...
Hoje, no nosso "Cantinho da Literatura", ofereço a vocês, meus queridos leitores, três poemas da nossa querida escritora Cecília Meireles.
Suaves, como sempre foi o seu jeito de expressar os seus sentimentos e com o jeito especial de procurar entender a vida.
A arte de ser feliz, Retrato e Canção de Outono, fechando assim essa estação de clima agradável, romântica e que antecede o inverno que está apenas começando.
Esses textos de Cecília Meireles, com certeza, vão fazer despertar a vontade de prestarmos mais atenção a essas ações naturais, a essas riquezas que recebemos no dia-a-dia. Pensar no quanto a vida passa tão depressa e quando nos damos conta, já não sabemos como nosso rosto mudou, nossas mãos enfraqueceram, e como passou tudo de repente, e como não temos mais tempo de resgatar aquele sorriso que nos esquecemos de enfeitar a nossa face com as coisas mais belas que recebemos de graça e não sabemos dar valor. Ainda é tempo de ser feliz.
Abraços da amiga Janete

A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega; era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus
dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles
Retrato
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles
CANÇÃO DE OUTONO
Perdoa-me, folha seca,
Não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando àqueles
que não se levantarão...
Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles

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