Olá, meus queridos amigos.
Hoje, ouvindo um cd de Chico Buarque, pensei: Por que não? Por que
não fazer uma homenagem a esse cantor tão conhecido e querido, no nosso “Cantinho
da Literatura”?
É claro que não tenho condições de passar para vocês toda biografia
desse gênio da MPB, mas como escritor, quero registrar nesse espaço, alguns de
seus pensamentos e um trechinho do seu famoso livro “Leite Derramado”.
Muitos não conhecem esse lado escritor de Chico Buarque e o nosso
blog da amizade é para levar até vocês, um “esboço” das obras e uma pequena
pesquisa biográfica dos nossos queridos escritores brasileiros, instigando a
curiosidade para uma pesquisa mais extensa, caso seja do interesse de cada
leitor.
Um rápido resumo:
Francisco Buarque de
Hollanda, mais conhecido como Chico
Buarque, (Rio de Janeiro,
19 de junho de 1944), é um músico, dramaturgo
e escritor brasileiro.
É conhecido por ser um dos maiores nomes da música popular brasileira (MPB). Sua discografia
conta com aproximadamente oitenta discos, entre eles discos-solo, em parceria
com outros músicos e compactos.
Em 2 de dezembro de 2012, foi confirmado por Miguel Faria, um
documentário, do qual apresentará um show de Chico, organizado para a produção,
mesclado com depoimentos dele e de outros nomes da música nacional, além de
encenações com personagens das canções mais famosas do artista.
Início de carreira:
Chico Buarque chegou a ingressar no curso de Arquitetura na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAU) em 1963. Cursou dois anos e parou
em 1965, quando começou a se dedicar à carreira artística. Neste ano, lançou
Sonho de Carnaval, inscrita no I Festival Nacional de Música Popular
Brasileira, transmitida pela TV Excelsior, além de Pedro Pedreiro, música
fundamental para experimentação do modo como viria a trabalhar os versos, com
rigoroso trabalho estilístico morfológico e politização, mais
significativamente na
década
de 1970. A primeira composição séria, Canção dos Olhos, é de 1961.
Festivais de MPB na década de 1960.
No festival de 1967 faria sucesso também com
Roda Viva, interpretada por
ele e pelo grupo
MPB-4 –
amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em 1968, voltou a vencer outro
Festival, o III
Festival
Internacional da Canção da
TV Globo. Como compositor, em parceria com
Tom Jobim, com a canção
Sabiá. Mas desta vez a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a
canção que ficou em segundo lugar:
Prá não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré.
A participação no Festival, com a Banda, marcou a primeira
aparição pública de grande repercussão apresentando um estilo amparado no
movimento musical urbano carioca da Bossa Nova, surgido em 1957. Ao longo da carreira, o samba e a
MPB também seriam estilos amplamente explorados.
Seria muito bom falar um pouco sobre a Trilha-sonora e adaptações
de livros; Teatro e literatura, a polêmica sobre o Prêmio Jabuti, os Programas
televisivos, Crítica ao Regime Militar do Brasil e também sobre os Intérpretes
de Chico Buarque e seus parceiros, mas vou deixar para que vocês busquem com
carinho esses relatos sobre esse artista que merece o nosso respeito e toda
homenagem não seria suficiente; sem contar com as grandes obras teatrais.
Obra teatral:
Em 1965, a pedido de Roberto Freire, diretor do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA),
na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), Chico musicou o poema Morte e Vida Severina de João Cabral
de Melo Neto, para a montagem da peça. Desde então, sua presença no teatro brasileiro tem sido
constante.
Roda viva, Calabar, Gota d’água, Ópera do malandro, O Grande
Circo Místico (Inspirado no poema do modernista Jorge de Lima, Chico e Edu Lobo
compuseram juntos a canção homônima para este espetáculo, que estreou em 17 de
março de 1983. Durante os dois anos seguintes, viajaram o país apresentando
este que foi um dos maiores e mais completos espetáculos já realizados. Um
disco coletivo foi lançado pela Som Livre para registrar a obra, com
interpretações de grandes nomes da MPB.)
Além da Discografia e Videografia, apresentando outros
trabalhos, como livros, peças e filmes.
Livros: Fazenda Modelo,
Chapeuzinho Amarelo, A bordo do Rui Barbosa (ilustrações de Vallandro Keating)
Estorvo (primeiro romance), Benjamim, Budapeste e Leite Derramado.
Trecho de Leite Derramado, de Chico Buarque
"Quando
eu sair daqui, vamos nos casar na fazenda da minha feliz infância, lá na raiz
da serra. Você vai usar o vestido e o véu da minha mãe, e não falo assim por
estar sentimental, não é por causa da morfina. Você vai dispor dos rendados,
dos cristais, da baixela, das joias e do nome da minha família. Vai dar ordens
aos criados, vai montar no cavalo da minha antiga mulher. E se na fazenda ainda
não houver luz elétrica, providenciarei um gerador para você ver televisão. Vai
ter também ar condicionado em todos os aposentos da sede, porque na baixada
hoje em dia faz muito calor. Não sei se foi sempre assim, se meus antepassados
suavam debaixo de tanta roupa. Minha mulher, sim, suava bastante, mas ela já
era de uma nova geração e não tinha a austeridade da minha mãe. Minha mulher
gostava de sol, voltava sempre afogueada das tardes no areal de Copacabana. Mas
nosso chalé em Copacabana já veio abaixo, e de qualquer forma eu não moraria
com você na casa de outro casamento, moraremos na fazenda da raiz da serra.
Vamos nos casar na capela que foi consagrada pelo cardeal arcebispo do Rio de
Janeiro em mil oitocentos e lá vai fumaça. Na fazenda você tratará de mim e de
mais ninguém, de maneira que ficarei completamente bom. E plantaremos árvores,
e escreveremos livros, e se Deus quiser ainda criaremos filhos nas terras de
meu avô. Mas se você não gostar da raiz da serra por causa das pererecas e dos
insetos, ou da lonjura ou de outra coisa, poderíamos morar em Botafogo, no
casarão construído por meu pai. Ali há quartos enormes, banheiros de mármore
com bidês, vários salões com espelhos venezianos, estátuas, pé-direito
monumental e telhas de ardósia importadas da França. Há palmeiras, abacateiros
e amendoeiras no jardim, que virou estacionamento depois que a embaixada da
Dinamarca mudou para Brasília. Os dinamarqueses me compraram o casarão a preço
de banana, por causa das trapalhadas do meu genro. Mas se amanhã eu vender a
fazenda, que tem duzentos alqueires de lavoura e pastos, cortados por um
ribeirão de água potável, talvez possa reaver o casarão de Botafogo e restaurar
os móveis de mogno, mandar afinar o piano Pleyel da minha mãe. Terei
bricolagens para me ocupar anos a fio, e caso você deseje prosseguir na
profissão, irá para o trabalho a pé, visto que o bairro é farto em hospitais e
consultórios. Aliás, bem em cima do nosso próprio terreno levantaram um centro
médico de dezoito andares, e com isso acabo de me lembrar que o casarão não
existe mais. E mesmo a fazenda na raiz da serra, acho que desapropriaram em
1947 para passar a rodovia. Estou pensando alto para que você me escute. E falo
devagar, como quem escreve, para que você me transcreva sem precisar ser
taquígrafa, você está aí? Acabou a novela, o jornal, o filme, não sei por que
deixam a televisão ligada, fora do ar. Deve ser para que esse chuvisco me
encubra a voz, e eu não moleste os outros pacientes com meu palavrório. Mas
aqui só há homens adultos, quase todos meio surdos, se houvesse senhoras de
idade no recinto eu seria mais discreto. Por exemplo, jamais falaria das
putinhas que se acocoravam aos faniquitos, quando meu pai arremessava moedas de
cinco francos na sua suíte do Ritz. Meu pai ali muito compenetrado, e as
cocotes nuinhas em postura de sapo, empenhadas em pinçar as moedas no tapete,
sem se valer dos dedos. A campeã ele mandava descer comigo ao meu quarto, e de
volta ao Brasil confirmava à minha mãe que eu vinha me aperfeiçoando no idioma.
Lá em casa como em todas as boas casas, na presença de empregados os assuntos
de família se tratavam em francês, se bem que, para mamãe, até me pedir o
saleiro era assunto de família. E além do mais ela falava por metáforas, porque
naquele tempo qualquer enfermeirinha tinha rudimentos de francês. Mas hoje a
moça não está para conversas, voltou amuada, vai me aplicar a injeção. O
sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um
corredor cheio de pensamentos. Ouço ruídos de gente, de vísceras, um sujeito
entubado emite sons rascantes, talvez queira me dizer alguma coisa. O médico
plantonista vai entrar apressado, tomar meu pulso, talvez me diga alguma coisa.
Um padre chegará para a visita aos enfermos, falará baixinho palavras em latim,
mas não deve ser comigo. Sirene na rua, telefone, passos, há sempre uma
expectativa que me impede de cair no sono. É a mão que me sustém pelos raros
cabelos. Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as
profundezas, onde costumo sonhar em preto-e-branco."
Frases e pensamentos de Chico
Buarque:
“Que saudade é o pior tormento, é
pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...”
“...Venha, meu amigo. Deixe esse
regaço. Brinque com meu fogo. Venha se queimar. Faça como eu digo. Faça como eu
faço. Aja duas vezes antes de pensar... Eu semeio o vento. Na minha cidade. Vou
pra rua e bebo a tempestade...”
“... e se vai continuar enrustido com
essa cara de marido, a moça é capaz de se aborrecer... Por trás de um homem
triste há sempre uma mulher feliz...”
“O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?”
“Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia”
“Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.”
“A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha.”
Chico Buarque
É isso aí. Salve Chico Buarque.
Abraços da amiga Janete