Panela de Barro - Parte II

Olá, meus queridos amigos.
Como vocês viram na semana passada, voltei com mais uma série de "Curiosidades", e dessa vez falando sobre a "Panela de Barro" e as "Paneleiras de Goiabeiras"; e como escolhi umas matérias bem interessantes, achei melhor que soubessem um pouco mais sobre o assunto e por isso a necessidade de dividir em duas partes.
Vocês vão saber um pouco mais sobre a história da panela de barro, desde a retirada da argila, o ofício de cada paneleira, e como se faz uma Moqueca Capixaba, com a deliciosa receita da D. Lucilina.
 
CONHEÇA UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS!
Tudo começa com a reteirada da argila do Vale de Mulembá, distante 20 minutos de barco do galpão. Essa tarefa cabe aos homens da região, geralmente maridos e filhos das paneleiras. Lucilina informa que são retiradas "mil bolas" de barro por mês do vale. Cada bola é formada por cinco quilos de argila. Com uma bola são feitas duas panelas e suas tampas.
 
 Quando chega ao galpão, o barro passa por um processo de limpeza no qual são retirados as pedras e os restos vegetais. Em seguida, o material é pisoteado até que se transforme em uma massa uniforme, macia e maleável. A partir daí, começa o trabalho das mulheres. Lucilina conta que uma panela pode ser feita em até cinco minutos. Mas, depois de moldado, o utensílio é colocado ao ar livre para secar. Depois, é alisado com um seixo rolado para retirar os grãos de areia mais grossos. Nesse ponto, as paneleiras reúnem sua produção e queimam suas panelas em fogueiras. No final da queima, as peças, ainda quentes, recebem um tratamento de superfície com tanino retirado da casca das árvores do mangue onde fica o galpão, dando a coloração específica das peças. Esse processo pode levar de dois a três dias. A panela mais barata, a pimenteira, custa R$ 2 e a mais cara, que faz moqueca para dez pessoas,
R$ 50.
Ao sair com sua panela do galpão, o comprador é informado que é preciso fazer outra queima antes de utilizá-la na cozinha. Para isso, deve-se colocar dentro da panela duas colheres de óleo de cozinha, de preferência óleo de oliva, levando-a em contato com o fogo. O óleo queimará e, quando a fumaça começar a ficar preta, o fogo deve ser apagado.
Tudo isso para que os materiais usados na confecção das panelas não interfiram no sabor da comida.

Selo de qualidade

As panelas compradas no galpão têm um selo que atestam a sua origem artesanal. Foi essa a forma que as mulheres encontraram para diferenciar seus utensílios dos industrializados. Segundo Lucilina, as panelas industriais são feitas de barro misturado com cimento e são queimadas em fornos feitos de pneus. "As nossas panelas são as originais, não vieram do Paraguai", brinca.

Ela não teve filhas, mas três filhos. Isso, porém, não a impediu de passar seus conhecimentos para uma nova geração. É para a nora Rosângela que Lucilina está ensinando tudo o que sabe e diz que ela já está "fazendo direitinho" as panelas.

 
A panela de barro é uma tradição milenar no Espírito Santo.
 
A cerâmica em argila queimada era fabricada pelos índios ainda antes da colonização portuguesa, esta tradição se mantém viva graças às Paneleiras de Goiabeiras-ES, que, há várias gerações, continuam fabricando artesanalmente as autênticas panelas de barro.
 
As Paneleiras de Goiabeiras assim chamadas por ser a maioria das artesãs mulheres, residem no bairro de Goiabeiras, em Vitória, capital do Estado do Espírito Santo.
 
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
 
O saber envolvido na fabricação artesanal de panelas de barro foi o primeiro bem cultural registrado, pelo Iphan, como Patrimônio Imaterial no Livro de Registro dos Saberes, em 2002. O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, emprega técnicas tradicionais e matérias-primas provenientes do meio natural. A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário.
 
Apesar da urbanização e do adensamento populacional que envolveu o bairro de Goiabeiras, fazer panelas de barro continua sendo um ofício familiar, doméstico e profundamente enraizado no cotidiano e no modo de ser da comunidade de Goiabeiras Velha. É o meio de vida de mais de 120 famílias nucleares, muitas das quais aparentadas entre si. Envolve um número crescente de executantes, atraídos pela demanda do produto, promovido pela indústria turística como elemento essencial do "prato típico capixaba".
 
As panelas continuam sendo modeladas manualmente, com argila sempre da mesma procedência e com o auxílio de ferramentas rudimentares. Depois de secas ao sol, são polidas, queimadas a céu aberto e impermeabilizadas com tintura de tanino, quando ainda quentes. Sua simetria, a qualidade de seu acabamento e sua eficiência como artefato devem-se às peculiaridades do barro utilizado e ao conhecimento técnico e habilidade das paneleiras, praticantes desse saber há várias gerações. A técnica cerâmica utilizada é reconhecida por estudos arqueológicos como legado cultural Tupi-guarani e Una2, com maior número de elementos identificados com os desse último. O saber foi apropriado dos índios por colonos e descendentes de escravos africanos que vieram a ocupar a margem do manguezal, território historicamente identificado como um local onde se produziam panelas de barro.
 
Linda matéria, não é mesmo?
É uma história encantadora e vale a pena ler e pesquisar mais sobre essas guerreiras paneleiras de Goiabeiras.
Para encerrar, uma receita da deliciosa moqueca de peixe das Paneleiras.
Ingredientes:
2 kg de peixe fresco (badejo, robalo, papa-terra, pargo)/ 4 a 5 maços de coentro/ 4 maços de cebolinha verde/ 2 cebolas brancas pequenas/ tomate a gosto 2 limões/ azeite de oliva (azeite doce)/ óleo/ colorau/ pimenta.

Modo de fazer:
Limpe bem o peixe, corte-o em postas e deixe-o em uma vasilha com sal e o suco de 1 limão. Conserve assim por uma hora. Em uma panela de barro grande coloque: 2 colheres de óleo, 1 colher de azeite, cebolinha verde, cebola branca e coentro (tudo bem picadinho), tomate cortado em rodelas e colorau. Em seguida, arrume as postas do peixe e repita a camada de temperos picados. Cozinhe em fogo brando. Quando começar a ferver, pingar gotas de limão. Fechar a tampa. Espere 10 minutos e experimente o sal.


Dicas de Lucilina:
Não pode deixar a moqueca ferver, pois o peixe endurece.
A panela de barro, quando retirada do fogo, continua cozinhando o peixe por mais cinco minutos
A moqueca deve ser servida na panela de barro; conserva a temperatura por mais tempo.

Com essas matérias, vocês conheceram melhor a história da "Panela de barro" e das incríveis "Paneleiras de Goiabeiras"
Até a próxima curiosidade do Espírito Santo.
Abraços da amiga Janete




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