Manuel Bandeira

Olá, meus queridos amigos.
Manuel Bandeira, "velho" conhecido da nossa Literatura Brasileira; e surpreendentemente um grande romântico, quem diria... Fiquei encantada com a simplicidade e a diversidade dos seus versos e prosas e os poemas dedicados às mulheres, sempre com muito carinho. Gostei e pretendo ler mais "Manuel Bandeira".
Por ser o mês de março dedicado às mulheres, aproveito para oferecer às amigas que prestigiam o nosso blog da amizade, um resumo da Biografia e alguns trechos das obras de Manuel Bandeira.
Com carinho da amiga Janete.
"...o sol tão claro lá fora,
o sol tão claro, Esmeralda,
e em minhalma - anoitecendo."
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1890 a família se transfere para o Rio de Janeiro e a seguir para Santos - SP e, novamente, para o Rio de Janeiro. Passa dois verões em Petrópolis.
Poeta brasileiro
Manuel Bandeira foi um precursor do Modernismo, 
além de um dos maiores poetas brasileiros.
O recifense Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Em 1903, transferiu-se para São Paulo, onde iniciou o curso de engenharia na Escola Politécnica da USP (queria ser arquiteto, curso então ligado à escola de engenharia). No ano seguinte, abandonou os estudos por causa da tuberculose e retornou para o Rio, onde escreveu poesia e prosa, fez crítica literária e deu aulas na Faculdade Nacional de Filosofia. Por causa da doença, passou longos períodos em estações climáticas no Brasil e na Europa. Entre 1916 e 1920, perdeu a mãe, a irmã e o pai.
Em 1917, publicou "A Cinza das Horas", de nítida influência parnasiana e simbolista. Dois anos depois, lançou "Carnaval", fazendo uso do verso livre. Já se mostrava um dos precursores da linha modernista, e Mário de Andrade o chamaria de "São João Batista do modernismo brasileiro". Apesar disso, em 1922, por não concordar com a intensidade dos ataques feitos aos parnasianos e simbolistas, não participou diretamente da Semana de Arte Moderna (nem sequer viajou para São Paulo).
No entanto, seu poema "Os Sapos", lido por Ronald de Carvalho na segunda noite do acontecimento, provocou muitas reações. Nele, Bandeira se vale mais uma vez do verso livre, principal característica de sua obra:
"Enfunando os sapos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos./ A luz os deslumbra./ Em ronco que aterra,/ Berra o sapo-boi:/ 'Meu pai foi à guerra!' - 'Foi!' - 'Não foi!'"
Com "O Ritmo Dissoluto" (1924 e "Libertinagem" (1930), temos um poeta totalmente integrado no espírito modernista.
"Libertinagem" apresenta alguns poemas fundamentais para entender a poesia de Bandeira: "Vou-me embora pra Pasárgada", Poética", "Evocação do Recife" e outros. Aparecem ali seus grandes temas: a família, a morte, a infância no Recife, os indivíduos que compõem as camadas mais baixas da sociedade.
Apesar dos amigos e das reuniões na Academia Brasileira de Letras (para a qual foi eleito em 1940), Bandeira viveu solitariamente. Mesmo sendo um apaixonado pelas mulheres, nunca casou: dizia que "perdeu a vez".
Morreu aos 82 anos, de parada cardíaca - e não de tuberculose, a doença que o acompanhara durante parte tão grande de sua vida.
Bibliografia:
Algumas Poesias:
A Cinza das Horas - Jornal do Comércio - Rio de Janeira, 1917 (Edição do Autor)
Carnaval - Rio de Janeiro, 1919 (Edição do Autor)
Poesias (acrescida de O Ritmo Dissoluto) - Rio de Janeiro, 1924
Libertinagem - Rio de Janeiro, 1930 (Edição do Autor)
Estrela da Manhã - Rio de Janeiro, 1936 (Edição do Autor)
Poesias Escolhidas - Rio de Janeiro, 1937
Poesias completas acrescida de Lira dos cinquent'anos) - Rio de Janeiro, 1940 (Edição do Autor)...
E muitas outras poesias, além das prosas, como "Noções de História das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940; A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957 , Itinerário de Pasárgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966, Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ, Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ e outras obras maravilhosas.

Para vocês, alguns trechos de poemas de Manuel Bandeira:

ARTE DE AMAR
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
(Manuel Bandeira)
Boda espiritual
Tu não estás comigo em momentos escassos:
No pensamento meu, amor, tu vives nua
- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.
O teu ombro no meu, ávido, se insinua.
Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...
Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...
Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.
O teu corpo crispado alucina. De escorço
O vejo estremecer como uma sombra n'água.
Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.
E para amortecer teu ardente desejo
Estendo longamente a mão pelo teu dorso...
Tua boca sem voz implora em um arquejo.
Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto
A maravilha astral dessa nudez sem pejo...
E te amo como se ama um passarinho morto.
(Manuel Bandeira)
Tempo Será:
A Eternidade está longe
(Menos longe que o estirão
Que existe entre o meu desejo
E a palma da minha mão).
Um dia serei feliz?
Sim, mas não há de ser já:
A Eternidade está longe,
Brinca de tempo-será.
(Manuel Bandeira)
Andorinha, andorinha lá fora está cantando:
-Passei o dia a-toa, a-toa.
Andorinha minha canção é mais triste:
-Passei a vida a-toa, a-toa.
(Manuel Bandeira)
A Estrela
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
(Manuel Bandeira)
Mulheres
Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.
Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! Fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...
És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai.
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau)
(Manuel Bandeira)

Poema extraído do livro "Manuel Bandeira - 50 poemas escolhidos pelo autor", Ed. Cosac Naify - São Paulo, 2006, pág. 35.
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
(Manuel Bandeira)
Estrela da Manhã
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar
(Manuel Bandeira)
O último poema
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Com esses versos homenageamos o poeta Manuel Bandeira na passagem dos 40 anos de seu falecimento (13/10/1968).
Que importa a paisagem, a Glória, a baia, a linha do horizonte?
- O que vejo é o beco
(Manuel Bandeira)
Tem mais presença em mim, o que me falta.
(Manuel Bandeira)





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