Sophia de Mello


Olá, meus queridos amigos. Sempre falo sobre a importância das poesias em nossas vidas; quando tiramos algum tempo para ler, viajar com as inspirações dos nossos queridos poetas e poetisas, e divagar em nossa própria história, em nossos pensamentos, motivados pelas histórias e pensamentos desses magníficos escritores e é desse jeito que procuro o melhor desses gênios da literatura, independente se são ou não conhecidos, mas com a certeza de que todos têm a pureza de sentimentos e a sensibilidade extraída do seu próprio ser, compartilhando com os amantes da leitura.
Em junho, o nosso Cantinho da Literatura completa quatro anos e além dos escritores brasileiros, vocês terão oportunidade de conhecer também escritores de outros lugares, como por exemplo, de Portugal, onde podemos conhecer muitos poetas e poetisas com seus versos e prosas, com seus poemas sonhadores e idealistas, como vocês já tiveram oportunidade de ler um ou outro no nosso espaço.
Vou começar falando um pouco sobre Sophia de Mello.


 Sophia de Mello Breyner Andresen fez-se poeta já na sua infância, quando, tendo apenas três anos, foi ensinada "A Nau Catrineta" pela sua ama Laura:
"Havia em minha casa uma criada, chamada Laura, de quem eu gostava muito. Era uma mulher jovem, loira, muito bonita. A Laura ensinou-me a "Nau Catrineta" porque havia um primo meu mais velho a quem tinham feito aprender um poema para dizer no Natal e ela não quis que eu ficasse atrás… Fui um fenómeno, a recitar a "Nau Catrineta", toda. Mas há mais encontros, encontros fundamentais com a poesia: a recitação da "Magnífica", nas noites de trovoada, por exemplo. Quando éramos um pouco mais velhos, tínhamos uma governanta que nessas noites queimava alecrim, acendia uma vela e rezava. Era um ambiente misto de religião e magia… E de certa forma nessas noites de temporal nasceram muitas coisas. Inclusivamente, uma certa preocupação social e humana ou a minha primeira consciência da dureza da vida dos outros, porque essa governanta dizia: «Agora andam os pescadores no mar, vamos rezar para que eles cheguem a terra» (…)."[
 
 Como uma flor vermelha

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
 
Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho

Evadir-me, esquecer-me

Evadir-me, esquecer-me, regressar
À frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não

Sophia de Mello Breyner

Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!

Sophia de Mello Breyner Andreson
Poesia, Antologia
Moraes Editores, 1970

Então, essa foi mais uma homenagem do nosso Cantinho da Literatura.
Apenas um "aperitivo", mas se gostaram e quiserem saber e ler mais sobre a biografia e as obras de Sophia Mello, pesquisem. Vai valer a pena.
Abraços da amiga Janete



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