Carlos Pena Filho

Olá, meus queridos amigos.
Hoje, no Cantinho da Literatura, dois lindos sonetos de Carlos Pena Filho para vocês.


 
Soneto para Greta Garbo

"Entre silêncio e sombra se devora
e em longínquas lembranças se consome
Tão longe que esqueceu o próprio nome
e talvez já não sabe por que chora

Perdido o encanto de esperar agora
o antigo deslumbrar que já não cabe
transforma-se em silêncio por que sabe
que o silêncio se oculta e se evapora

Esquiva e só como convém a um dia
despregado do tempo, esconde a tua face
que já foi sol e agora é cinza fria

Mas vê nascer da sombra outra alegria
como se o olhar magoado contemplasse
o mundo em que viveu, mas que não via."
Carlos Pena Filho
 
SONETO OCO
 
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
 
 
 
CARLOS PENA FILHO
(1930-1960)
 
Nasceu e faleceu no Recife em 1930. Publicou O Tempo da Busca, em 1952; cMemórias do Boi Serapião, com ilustrações de Aloísio Magalhães, edição Gráfico Amador, Recife, 1956; A Vertigem Liicida, edição da Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, 1958 e Livro Geral, edição da Livraria São José, 1959.
 
Maysa, a musa da bossa nova, gravou a canção “A mesma rosa amarela”, de sua autoria em parceria com o grande Capiba.
 
Faleceu vítima de um terrível acidente automobilístico.
 

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